Viver no Brasil, mesmo no fogo cruzado da cidade grande, é uma experiência de amplitudes e horizontes abertos. Os demais continentes e países, mesmo os outros países do continente americano, conhecem bem os seus limites e as suas limitações. Foram apalpando, cavando e explorando: foram avançando feito o filho pródigo até encontrar o fim espetacular dos recursos que os levou a parar, refletir e repensar.
A Europa, belíssima e saturadíssima, revirou cada sua pedra e é muito consciente dos seus limites. A Rússia, o Oriente Médio e a Ásia, cruzados que foram pelos guerreiros e exércitos de todas as proveniências, não ignoram as claras delimitações dos seus recursos. A Austrália e o Estados Unidos, ainda que empresas recentes, riscaram as suas provisões e tem plena consciência da sua finitude de reservas e fronteiras.
De limites, o Brasil não conhece os seus.
Não há na Terra experiência mais próxima de visitar o planeta do filme Avatar do que chegar pela primeira vez, vindo de qualquer lugar sitiado da Terra (e ora se este não é um planeta de gente que se entende sitiada) às expansões do Brasil.
Neste e em outros sentidos o país é uma miniatura quase intacta do que já foi uma dia este planeta virgem.
Somos um pequeno backup verde dentro da Terra azul, contendo os recursos naturais e o desatino de espírito capazes de potencialmente regenerar a natureza e a esperança que foram perdidas em outras partes.
Somos a esférica e luxuriante lua tropical de um planeta devastado, desiludido e saturado. Teríamos, idealmente, a chance de evitar de reencenar nestas praças, sertões e matas as desfigurantes injustiças, a desvairada destruição e os enormes erros de gerenciamento de recursos da arrasada Terra 1.0 .
O nosso sucesso nessa empreitada poderia (e, dentro de um desconcertante intervalo, ainda pode) representar a continuidade e a regeneração dos demais entrepostos de cultura humana no planeta.
O terror se alçou ao poder no Brasil investindo forte na história de que os brasileiros devem sentir-se sitiados dentro do seu próprio país.
É mentira.
Tateando ao longo das últimas décadas, levantamos garantias que devem ser simplesmente preservadas: foram levantadas elas mesmas a fim de preservar a integridade de lugares, de gentes, de fazeres e da própria continuidade.
Temos, incrivelmente, os recursos para mostrar a um planeta arrasado como é viver sem se sentir sitiado. Mas é a última integridade que temos: nunca foi hora melhor de colocá-la a bom uso.